economia

Festival da Cachaça atrai cerca de 25 mil visitantes e movimenta o mercado

Em quatro dias de evento, cerca de 25 mil pessoas aram pelos estandes da segunda edição do Festival da Cachaça de Brasília, representando um crescimento de 47% em relação ao ano anterior.

 O capixaba Roberto Martins está em busca de um
O capixaba Roberto Martins está em busca de um "sabor familiar" - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Com um familiar servindo de "motorista da vez", o tradicional encontro da fisioterapeuta Inês Caldas, 24, e do pai dela, o aposentado Roberto Matias, 66, foi reafirmado na união de um gosto em comum: visitando sequenciados estandes do Festival da Cachaça de Brasília, que encerrou a segunda edição, ontem, no estacionamento anexo ao Nilson Nelson. "Ninguém (em casa) consegue nos acompanhar na degustação. Estamos aqui para encontrar um produto que não seja muito suave. O sabor tem que ser do agrado de nós dois — algo que não fique só na lembrança do momento, mas que traga memórias", pontuou Inês, que tomou a primeira dose aos 18 anos. "Estou atrás de uma cachaça similar às que tomava em Vitória (ES), com meu pai; é difícil ir lá buscar, diariamente", brincou Roberto, morador de Vicente Pires. A cada aniversário, em um hábito, Inês celebra com o pai, aos golaços.

Tradição, de bicada em bicada de aguardente, fez a cabeça da jovem Maria Eduarda Santos, 24, demovida da carreira de designer para encarar a familiar lida com alambiques, mostos e afins, mantidos pelo pai Zé Filho, à frente da marca Estrela do Norte (MG), um dos 600 rótulos integrados aos 96 expositores do festival. "Produzo, mas bebo, moderadamente, para provar que é bem-feita", pontuou ele que, há quatro anos, resgatou as origens da valiosa bebida, cuja produção ocupa a terça parte dos 30 hectares mantidos, em Minas Gerais. "A nossa cachaça mais típica e tradicional vem dos tonéis de bálsamo, caracterizada pelo amarelo escuro; o aguardente mantém adstringência, e tem sabor herbal, com especiarias presentes como o anis", explica Eduarda, satisfeita por representar o produto medalhista, por "mérito sensorial" no concurso New Spirits 2025.


"É um evento para quem gosta da diversidade no ramo de saborear cachaça, e ainda vem conhecimento, que sempre é bom", comentou o proprietário do restaurante Chapéu de Sol, Adoniran de Assis Barbosa, ao lado da esposa, Valdineia. Eles pretendiam investir em algumas garrafas, num mimo aos clientes do restaurante em São João d´Aliança (Chapada dos Veadeiros). Com muitos dados da publicação especializada Prelúdio da Cachaça (de Câmara Cascudo) na cabeça, o mestre cachaceiro Eliezer Lacerda, 38, destilava conhecimento, quando o tema era a genealogia e os métodos de produção do rótulo Princesa do Vale (Pedra Azul, Vale do Jequitinhonha), mantido junto com o pai, seu Celso. O "blend especial" () foi comercializado na feira, por R$ 250 (a garrafa), e foi liquidado logo no primeiro dia do evento. "O terceiro lote, numa produção de 1500 garrafas por ano, deve sair em julho. Temos o valor agregado de permanência mínima de três anos em acondicionamento. Isso acentua o sabor do doce de coco defumado, a baunilha, a essência floral e o mel", destacou.

  • Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Além de sexóloga, "cachaceira", Ana Cristina Machado, proprietária da marca Terra de Zebu (Uberaba, MG), dava fim a qualquer discussão machista em torno da cachaça. "A mulher tem o diferencial da visão geral. Os funcionários satisfeitos garantem a qualidade do produto. Participo da produção ao engarrafamento, e aprendo com os funcionários. Lidamos com algo em torno de 64 mil litros por ano. No festival, a interação com o cliente é o que dá o valor diferenciado", avaliou.

Na prática, as amigas de Ceilândia Isabel Sotero, 48, do lar, e Micaele Duarte, 26, assistente de sucesso ao cliente, junto com Vanessa Mayara, 34, analista fiscal, vinda de Águas Lindas (GO), analisavam e confirmavam o sucesso "enquanto clientes". No quinto estande, seguiam nas amostras de cachaça, no estande da Capueira (da goiana Paraúna). "A degustação chama muito a atenção e incentiva compras", comentou Micaele. Curiosamente, na preferência entre o festival de cachaças, elegeram a preferência pelo licor de pistache goiano. 

Mercado

Mineiro com 25 anos de Brasília, o empresário Cid Faria, 60, a todo momento, no estande, era interpelado pela popularidade da marca Remedin, cujo berço vem mesmo é de Brasília, na região da Fercal. "Temos 10 prêmios nacionais, entre os quais o CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) — Sebrae de melhor cachaça prata do Brasil (2022). Junto com a cerveja, e com o vinho locais, a cachaça se beneficia de características geográficas de "terroir" (ambiente natural favorável). Há altitude, seca bem marcada e terrenos com pouca acidez", conta. Cid elenca motivações para estar no festival, para além das vendas: além do relacionamento direto com fornecedores, há como se atualizar, na circulação entre workshops e palestras.

No contexto dos números impulsionados pelo mercado da cachaça, nada vem embaralhado: em Brasília, a produção cresceu 35% desde o ano ado. Pelos dados do Anuário da Cachaça 2024, a bebida estipulou recorde nas exportações: ultraando os US$ 20 milhões (mais de R$ 123 milhões), significativo aumento de 0,7% em relação a 2023. Durante o festival, foi lançado, apenas entre convidados, o Mapa da Cachaça, plataforma digital vinculada à promoção e valorização da bebida, por meio de material informativo.

A organizadora do evento, Edilane Oliveira, diretora-geral do Instituto Brasileiro de Integração (IBI), celebrou o sucesso da segunda edição do Festival da Cachaça de Brasília: "Em quatro dias de evento, cerca de 25 mil pessoas aram pelos estandes, representando um crescimento de 47% em relação ao ano anterior. Esse resultado superou as expectativas, especialmente considerando que, em 2024, a feira teve cinco dias de duração, enquanto, em 2025, foram apenas quatro. Tivemos mais do que o dobro de expositores e o triplo de rótulos exibidos."

  •  31/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Feira da cachaça próximo ao ginásio Nilson Nelson. Roberto Martins e sua filha Inês Maria.
    31/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Feira da cachaça próximo ao ginásio Nilson Nelson. Roberto Martins e sua filha Inês Maria. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  31/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Feira da cachaça próximo ao ginásio Nilson Nelson. Ana Cristina
    31/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Feira da cachaça próximo ao ginásio Nilson Nelson. Ana Cristina Minervino Júnior/CB
  • Festival da Cachaça
    Festival da Cachaça Divulgação

 


postado em 02/06/2025 05:00 / atualizado em 02/06/2025 06:45
x