
Riscos de recessão e desaceleração econômica nos Estados Unidos fizeram com que o dólar voltasse a registrar queda ante o real no pregão de ontem. Ao final do dia, a moeda norte-americana recuou 0,44%, cotado a R$ 5,86. O movimento ocorreu na maioria das principais economias do mundo. O Índice DXY, que mede a força da divisa dos EUA ante outras concorrentes, fechou a sessão em baixa de 0,87%, abaixo dos 100 pontos.
A queda da moeda norte-americana no cenário internacional foi impulsionada pelo temor entre investidores de um possível avanço da inflação no país. Durante a tarde, o presidente do Federal Reserve (Fed) — o Banco Central dos EUA —, Jerome Powell, disse que houve uma desaceleração no crescimento econômico do país já no início do ano, em relação ao mesmo período em 2024.
Além disso, o chairman prega cautela ao tratar sobre os impactos que as tarifas devem ter no mercado norte-americano como um todo, mas acredita que os efeitos podem vir pior que o esperado, dada a insistência do presidente dos EUA, Donald Trump, em manter taxas de importação elevadas a parceiros comerciais no mundo todo, além da China. "À medida que soubermos mais, continuaremos a atualizar nossa avaliação", considerou.
Na avaliação do especialista em investimentos da Nomad, Bruno Shahihi, o mercado de câmbio ou por ajustes nesta sessão, em resposta à desvalorização global do dólar. Para o analista, as incertezas seguem predominantes, especialmente devido à escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China.
"Há receios de que o presidente Trump utilize as novas rodadas de negociações comerciais como estratégia para tentar isolar a economia chinesa dos mercados internacionais, fator que explica tanto a queda dos principais índices americanos no pregão de hoje quanto o enfraquecimento do dólar", destaca.
Na avaliação de Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, o dólar tende a se fortalecer no curto prazo, mas esse fortalecimento pode ser ageiro caso a questão tarifária dos EUA comece a afetar o crescimento econômico do país. "Essa guerra tarifária já virou um 'flaflu', e chega um momento que já não faz mais sentido comercial aumentar, porque o produto já se tornou tão caro que ele já não iria vendê-los, seja uma taxa de 145% ou 245%", destaca.
Confusão
Ainda ontem, a Casa Branca gerou uma confusão no mercado financeiro ao anunciar que as tarifas de importação para produtos chineses chegam a 245%. Depois, teve que explicar que essas taxas são direcionadas a itens específicos listados na Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA, que trata sobre práticas "desleais" e "injustas" para o mercado norte-americano. Elas podem variar de 7,5% a 100%, o que somadas às tarifas recíprocas de 125% ao país asiático e de 20% aplicadas anteriormente, chega-se a 245%.
Com o sentimento de incerteza persistente no mercado acionário, os principais índices de Nova York fecharam o pregão em quedas consistentes. O Dow Jones recuou 1,73%, enquanto S&P 500 e Nasdaq encerraram a sessão com baixas de 2,24% e 3,07%, respectivamente.
No Brasil, o ambiente internacional somou-se à preocupação com o equilíbrio fiscal, após a publicação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2026, que foi recebido com ceticismo por analistas.
Diante disso, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa B3) encerrou o dia em queda de 0,72%, aos 128.316 pontos, na esteira dos mercados internacionais. As ações da Vale também tiveram um impacto relevante no principal índice da B3, após o resultado da mineradora no primeiro trimestre do ano ter indicado uma queda na produção. Com isso, os papéis da empresa tiveram baixa de 2,32% ao final do pregão.