ARTIGO

Visão do Correio: O perigo dos jogos de bebida

Além do consumo excessivo, os jovens que participam dessa modalidade de jogos ficam expostos a vários riscos

A eleição não se resumiu apenas à comida, aos bares, à cultura e à vida noturna. A lista também levou em conta o senso de comunidade e como as pessoas interagem nesse espaço. -  (crédito: reprodução youtube)
A eleição não se resumiu apenas à comida, aos bares, à cultura e à vida noturna. A lista também levou em conta o senso de comunidade e como as pessoas interagem nesse espaço. - (crédito: reprodução youtube)

O termo drinking games é antigo, assim como a prática, que remonta à Grécia Antiga, quando jovens romanos jogavam nos banquetes ou brincavam durante as festas medievais. Até então, era uma atividade relativamente inofensiva, mas, ao longo da história e com a crescente disseminação das redes sociais, tornou-se uma diversão perigosa, com sérios riscos à saúde e, em alguns casos, levando à morte.

Levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado em junho mostra que, entre os jovens com 15 a 19 anos, 23,5% são consumidores regulares de álcool. Desses, 38% já se envolveram em um episódio de "beber pesado", quando há a ingestão de ao menos 60g de álcool puro (mais de quatro latas de cervejas ou quatro taças de vinho) de uma só vez, como em uma disputa de bebida. Os dados sobre os brasileiros indicam uma ingestão regular maior que a média global, 40,8%, e uma frequência de episódios de exagero um pouco menor, 35,3%.

Intitulado Drinking games participation among university students: a systematic review (Participação em jogos de bebida entre estudantes universitários: uma revisão sistemática, em tradução livre), um estudo publicado na revista Journal of Substance Use em 2023 revela um padrão entre jovens americanos mais preocupante: entre 65% e 92% dos estudantes, com destaque para os universitários, participam desses jogos.

Além do consumo excessivo, quem se rende a essa modalidade de "diversão" está exposto a situações como descontrole com relação à quantidade e à intensidade que bebe, não percepção cognitiva para tomar decisões, participação em brincadeiras nem sempre agradáveis, como trotes, e maior chance de apresentar comportamentos sexuais de risco, entre outros. Cabe lembrar que a ingestão de álcool é significativamente ligada aos acidentes de trânsito fatais: são 12 mortes por hora no Brasil em razão disso, aponta estudo da Fiocruz.

Embora, para os jovens, seja uma espécie de competição em que ele se sente "vitorioso", a chance de comprometimento da saúde é grande: danos físicos (intoxicação, náuseas, vômito, fígado, coração, sistema nervoso central), mentais (agressividade, apatia, dificuldade em se relacionar) e, em casos mais graves, dependência química (alcoolismo). Vale ressaltar que associações médicas americanas levantaram a bandeira de que o álcool é o novo tabaco, considerando a quantidade de cânceres a que a ingestão excessiva da substância está associada.

Os homens lideram o ranking da ingestão excessiva. No caso da pesquisa estadunidense, isso ocorre, segundo os cientistas, em decorrência da facilidade de o (dormitórios na universidade) e "fraternidades", cujos integrantes são do sexo masculino. O fenômeno é comum em outros países, mas já é uma preocupação entre especialistas, incluindo brasileiros, o aumento da ingestão de álcool entre as mulheres.

Fato é que uma das principais motivações que levam os jovens aos drinking games é uma combinação de pressão social do próprio grupo do qual fazem parte e acreditar que participando se tornarão populares (aceitos) com mais facilidade. Como resultado, crescem as estatísticas de alcoolismo, e o uso de drogas vem a reboque.

Correio Braziliense
postado em 21/02/2025 06:00 / atualizado em 21/02/2025 08:16
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