
Ibaneis Rocha — governador do Distrito Federal
Há 65 anos nascia Brasília. Não apenas uma capital, mas um sonho erguido do concreto e da audácia, um projeto que uniu arquitetura, natureza e a coragem de milhares de candangos. Hoje, o Distrito Federal não é apenas símbolo do modernismo, mas da vida pulsante que habita suas asas, seus eixos, suas praças, suas cidades e o campo. Desta vez, é hora de celebrar com a grandeza que essa história merece.
Lembramos que, há cinco anos, quando Brasília chegou aos 60, as ruas estavam vazias, os abraços contidos, os festejos adiados em razão da pandemia da covid. Hoje, a cidade respira liberdade. É tempo de ocupar os espaços públicos com alegria, em uma confraternização que une shows gratuitos, exposições que contam nossa trajetória, feiras gastronômicas que misturam sabores do Brasil inteiro e transporte público liberado — um presente para quem construiu e vive esta cidade única.
Porque Brasília não é feita apenas de monumentos, mas de gente: do pedreiro que levantou seus pilares ao artista que coloriu seus muros, do servidor que mantém suas instituições à mãe que cria seus filhos. Se antes Brasília era a expressão máxima da arquitetura modernista, hoje ela se revela ao mundo por meio de sua gente. Uma mistura vibrante de sotaques, do Norte ao Sul do País, uma simbiose de raças que reflete o melhor do Brasil.
Em minhas caminhadas pela cidade, sempre busquei forças nesse contato: no aperto de mão do feirante, no abraço da professora, no sorriso da criança que brinca no Parque da Cidade. Foi essa esperança, tecida no cotidiano de quem escolheu chamar Brasília de lar, que me mostrou um caminho. E é por ele que seguimos trabalhando — para que cada um, seja quem for, tenha o à felicidade que merece.
Isso significa políticas públicas que gerem emprego e renda, mas também dignidade. Pela proteção da mulher que caminha sob o céu do DF, pela ibilidade que permite a todos ocuparem a cidade, pelo respeito às minorias que enriquecem nossa cultura. Por escolas que transformam, por hospitais que acolhem, pela segurança alimentar de quem levanta cedo para trabalhar. Por um transporte que não seja apenas meio de locomoção, mas direito garantido. E, claro, por uma cidade que cuide de seus monumentos — não como relíquias do ado, mas como testemunhas vivas de que Brasília é, e sempre será, Patrimônio Cultural da Humanidade.
Houve um tempo em que chamavam Brasília de "ilha da fantasia" — como se fosse um projeto distante da realidade brasileira, um experimento arquitetônico habitado por uma população "de fora". Era um rótulo carregado de preconceito, que ignorava a força dos candangos que a ergueram e a vitalidade dos que, década após década, fizeram dela um lugar verdadeiramente vivo. Hoje, a realidade desmente qualquer reducionismo: Brasília é uma cidade jovem não apenas em sua história, mas em sua energia, comprometida com uma qualidade de vida rara entre as metrópoles do país.
Mas manter esse padrão não tem sido fácil. É um trabalho diário, coletivo, que exige participação ativa de todos. Aqui, nenhum plano avança sem ampla discussão — e isso não é um obstáculo, mas uma virtude. O legado de Lucio Costa, especialmente no que diz respeito à harmonia entre urbanismo e bem-estar, segue sendo respeitado como um farol. Quando atualizamos o PPCUB no ano ado ou debatemos o PDOT, não estávamos apenas cumprindo obrigações técnicas; estávamos honrando um pacto com o futuro, como se o próprio Lucio Costa nos observasse. Poucas cidades no Brasil envolvem tanto sua população em decisões que afetam seu cotidiano — e esse diálogo é um patrimônio tão valioso quanto o concreto de Oscar Niemeyer.
Os números nos orgulham: estamos no topo do IDH entre as metrópoles brasileiras, com o menor índice de analfabetismo do país (1,7%, contra a média nacional de 5,6%). Essas conquistas não são acidentes. São fruto de políticas públicas efetivas e, sobretudo, da resistência de um povo que trabalhou, confiou e acreditou. Brasília acolheu migrantes de todas as regiões — gente sofrida e lutadora que cavou lagos, ergueu ministérios, plantou jardins e asfaltou avenidas. Foram essas mãos calejadas que transformaram o sonho de Dom Bosco em realidade.
E o esforço continua. Porque Brasília, como o Brasil, está em constante transformação. As demandas mudam, mas a essência permanece: uma cidade feita para as pessoas. Tenho certeza de que cada avanço social que alcançamos veio da força do povo — das ruas, da voz que exige seus direitos. Por isso, repito: nosso guia são as pessoas. Seu bem-estar é a medida do nosso sucesso.
Feliz aniversário, Brasília. Que os próximos capítulos sejam tão ousados quanto teu nascimento — e tão humanos quanto tua gente.