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Tarifa zero 732f11 pauta emergente no 65º aniversário de Brasília
Transporte público

Tarifa zero: pauta emergente no 65º aniversário de Brasília 1o1y3m

No momento do seu 65º aniversário, Brasília tem a oportunidade de avançar — por meio da adoção da tarifa zero — na promoção de uma política de justiça socioambiental que a faria merecer, de fato, a alcunha de "cidade do futuro" 59m6d

Thiago Trindadeprofessor do Instituto de Ciência Política da UnB, coordenador do Observatório das Metrópoles em Brasília

Brasília comemora em 2025 seus 65 anos de existência. Mas, à luz de nossos indicadores sociais, talvez não haja muito o que festejar. O Distrito Federal é marcado por desigualdades tão profundas que o tornam um dos territórios mais segregados do mundo. O relatório Como anda Brasília, produzido pelo IPEDF em 2023 (com dados da Pdad 2021), mostra que, enquanto a renda média do grupo de Regiões istrativas (RAs) mais ricas era de R$ 18.127, no grupo das RAs mais pobres essa renda equivalia a R$ 2.787.

Todavia, o foco do relatório reside em outro aspecto da desigualdade no DF: a mobilidade urbana. Ao se analisar os deslocamentos diários para o trabalho, verifica-se que a maioria daqueles realizados por ônibus e a pé é feita pelas pessoas negras, enquanto que a população não negra utiliza mais o carro para essa finalidade. Adotando o gênero como recorte, os homens não negros são os que mais se deslocam com automóvel (61,1%), seguidos pelas mulheres não negras (53,9%). Por sua vez, as mulheres negras constituem o grupo que mais se desloca para o trabalho de ônibus (45,5%) e a pé (12,7%), seguidas pelos homens negros (32,5% e 9%, respectivamente).

Pelo critério renda, na faixa de até um salário mínimo, tanto homens como mulheres se deslocam mais de ônibus para o trabalho (42,8% e 54,5%, respectivamente), bem como na faixa de um a dois salários (48,2% e 63,5%). Para os grupos de renda mais alta, a relação se inverte: o uso do carro aumenta, enquanto a locomoção por ônibus diminui consideravelmente.

Os dados revelam que as condições com que os diferentes grupos e classes sociais se locomovem pela cidade, e dela se apropriam para diferentes fins (lazer, serviços públicos, emprego etc.), são bastante diferenciadas. Uma vez que a possibilidade de ter um automóvel está ligada à condição econômica, a grande maioria dos residentes das localidades mais pobres é a que mais depende do transporte público. Por isso, os grupos de menor renda têm seu direito de ir e vir seriamente prejudicado, já que os custos do deslocamento diário podem ser um obstáculo considerável para sua locomoção. Em suma, a população branca e rica tem maior mobilidade urbana, enquanto que a população negra e de baixa renda experimenta maiores dificuldades para circular pela cidade, sendo que o grupo mais afetado são as mulheres negras de baixa renda.

Logo, a tarifa cobrada no transporte público é um elemento decisivo na sustentação da estrutura urbana segregacionista no DF, impedindo a população negra de circular livremente e reforçando padrões históricos de exclusão. Vale lembrar que, em 2015, o transporte foi incluído como direito social na Constituição Federal (Art. 6º), constituindo-se desde então em um dever do Estado. A tarifa representa, portanto, uma violação de um direito constitucional de milhões de pessoas.

Nesse cenário, a proposta de tarifa zero no transporte público emerge como alternativa viável e necessária para democratizar a cidade e garantir uma vida mais digna a grupos sociais historicamente marginalizados. Antes vista como "utopia", a tarifa zero hoje é realidade em mais de 120 municípios brasileiros (beneficiando mais de 5 milhões de cidadãos e cidadãs). Em março, teve início no DF o programa Vai de Graça, que garante tarifa zero aos domingos. Embora há pouco tempo em vigor, os efeitos positivos na economia local já são percebidos. 

É importante destacar que a tarifa zero não é uma política setorial; ao contrário, ela tem uma série de efeitos positivos que beneficia grande parte da sociedade. Simultaneamente, a tarifa zero é uma política de: i) distribuição de renda, já que anula o gasto com o transporte público e beneficia as pessoas de baixa renda; ii) combate às desigualdades raciais, pois permite maior liberdade de circulação à população negra; iii) garantia do direito constitucional de ir e vir para todas as pessoas; iv) redução das emissões de carbono, uma vez que tende a estimular um maior uso do transporte coletivo em detrimento do individual; e v) redução de mortes no trânsito, pela mesma razão.

É claro que a gratuidade no transporte público não resolve todos os nossos problemas, mas ela é um grande o na construção de uma cidade mais democrática e menos desigual. O Vai de Graça é uma conquista importante, mas a tarifa zero precisa ser adotada todos os dias da semana, 24 horas por dia. Sabemos que é possível. No momento do seu 65º aniversário, Brasília tem a oportunidade de avançar — por meio da adoção da tarifa zero — na promoção de uma política de justiça socioambiental que a faria merecer, de fato, a alcunha de "cidade do futuro".

 

 

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