Visão do Correio

A jovem geração ansiosa demanda mais cuidados

Todas as iniciativas de vigilância e que estimulem o uso saudável de dispositivos são bem-vindas. Assim como a cooperação entre diferentes atores para conter os excessos

. -  (crédito: Freepik/Divulgação)
. - (crédito: Freepik/Divulgação)

Nesta semana, veio ao Brasil Jonathan Haidt, um dos principais psicólogos sociais da atualidade e autor do livro A geração ansiosa — Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais, obra que se popularizou por enfatizar os prejuízos para o desenvolvimento infantojuvenil do uso das telas. Haidt apresentou números e fez paralelos instigantes sobre a relação entre a tecnologia e os riscos do consumo excessivo desses meios para a saúde física e mental, especialmente de crianças e adolescentes. E analisou o cenário nacional.

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É importante destacar que, em fevereiro último, o governo brasileiro, a partir do Decreto nº 12.385/2025, regulamentou a Lei nº 15.100/2025, proibindo o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos no ambiente escolar. Pouco mais de três meses após o início da vigência das novas regras, Haidt, que também é professor universitário, elogia a situação do país: segundo ele, o Brasil tornou-se um exemplo mundial a ser seguido. 

Não restam dúvidas de que o decreto reduziu drasticamente a fixação dos usuários por esses dispositivos, pelo menos nas escolas, numa faixa etária em pleno desenvolvimento físico e intelectual. A comunidade escolar agradece, com destaque para os professores, que têm notado resultados positivos no que diz respeito à maior concentração nos estudos, à participação em sala de aula e à socialização entre seus pares. Sem dúvida, um avanço no âmbito educacional. Mas os desafios continuam.

Haidt alerta, por exemplo, para o impacto diferenciado das tecnologias sobre meninos e meninas. Enquanto eles são imediatistas, focados mais em games que em redes sociais, o que os torna dependentes, elas preferem as redes, são mais "investigativas" e assediadas pelos meninos, com impactos também na saúde mental. Há ainda o fenômeno do avanço das bets, que são cheias de chamativos para o público  jovem, como a presença de influencers e a ligação com resultados de jogos esportivos.

É cedo, certamente, para afirmar que a proibição do uso de celulares na forma como foi adotada na maioria das escolas é a melhor estratégia. Instituições acabaram por conduzir o processo de forma rígida, reduzindo a quase zero o uso dos dispositivos até mesmo pelos professores, e seguem os alertas sobre a importância da adoção de ferramentas tecnológicas como recursos pedagógicos. 

Melhor mesmo seria o uso consciente da tecnologia, sem repressão, sem vigília. Nesse sentido, Haidt defende como a etapa a ser seguida imediatamente um exercício maior de relacionamento entre pais e filhos. Conversar, monitorar e alertar para os riscos diversos e também letais. Há um aumento de casos de adolescentes que são vítimas de crimes praticados no submundo das redes e daqueles apreendidos por articulação com quadrilhas que disseminam desafios virtuais, conteúdos de estímulo à autolesão e ao suicídio, entre outras atrocidades.

Em um Brasil que se posiciona como o quinto país, entre 193, com a maior quantidade de usuários de smartphones no planeta e que oito em cada 10 pessoas com 9 a 17 anos que usam internet têm o próprio celular, todas as iniciativas de vigilância e que estimulem o uso saudável de dispositivos são bem-vindas. Assim como a cooperação entre diferentes atores — pais, agentes públicos, profissionais da educação e saúde — para conter os excessos.

 

Por Opinião
postado em 30/05/2025 06:00
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