
Ricardo Afonso Teixeira*
Adolescentes com depressão e ansiedade têm a tendência em usar as redes sociais por 50 minutos a mais que outros da mesma idade sem qualquer condição psiquiátrica. Além disso, sofrem mais com comentários que recebem e ao comparar o número de amigos/seguidores ou likes das suas publicações com os dos outros. Esses são resultados de um estudo com mais de três mil adolescentes publicado este mês pelo prestigiado periódico Nature Human Behaviour.
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É um dos primeiros estudos e o mais robusto até o momento que analisa os impactos das redes sociais em adolescentes que sofrem de transtornos psiquiátricos. Não há como descartar a possível influência do exagero das redes sociais na deflagração ou perpetuação dos quadros clínicos. Entretanto, esse potencial de deflagração parece não ser grande.
Outra pesquisa publicada pelo mesmo periódico em 2019 usou um método de análise estatística rigoroso de três estudos de larga escala voltados à saúde mental dos adolescentes e mostraram que o impacto das mídias digitais existe, mas é pequeno. Chega a ser responsável por no máximo 0.4% da variação do bem-estar psíquico de um adolescente.
Os pesquisadores compararam os efeitos do mundo digital com outros fatores que os adolescentes são confrontados, como exposição ao álcool, tabagismo, bullying, privação de sono, dieta saudável e hábito de tomar café da manhã, uso de óculos ou hábito de ir ao cinema, etc. Quase todos esses fatores tiveram efeitos mais significativos no bem-estar dos adolescentes que o tempo que avam na frente dos dispositivos digitais. Em comparação aos 0.4% de impacto descrito acima, bullying tinha um impacto de 2.7% e uso da maconha era de 4.3%. O tamanho do efeito negativo das mídias digitais foi comparável ao hábito de comer batatas regularmente e menor do que o de usar óculos.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília
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